Maria

Mal ouvi a minha primeira história de amor, percebi que apenas provava os frutos do Outono, quando o que eu queria era encantar-me com o perfume das flores da Primavera. Estava cega. Comecei a procurar-te! De repente o amor revelou-se e deixou-me desprotegida, frágil. Tudo parecia tão doce naquela manhã de Abril, quando nos beijamos pela primeira vez… era tudo tão estranhamente doce e perfumado. Finalmente encontramo-nos num qualquer lugar, perdidos um no outro. Pensei que esse amor nunca iria mudar. Mas a felicidade é difícil, é apenas um vislumbre!

O crepúsculo reúne lá fora um véu em tons lilás. Ainda é bastante cedo, mas cá dentro, as cortinas fechadas enchem a sala de sombras profundas e brilhos incertos. Aqui todas as formas e padrões parecem reais. O toque macio da pele da cobra, as cores das escamas do peixe, a rugosidade e dureza de qualquer outra criatura… A natureza toca-me de forma tão subtil que até o ar emanado de árvores antigas, numa floresta, pode mudar e renovar maravilhosamente esta mente cansada! As formas imaginárias, são apenas isso! Símbolos que sonho ou aparecem em devaneios, carregados de significado.

Quando a vida nos desafia, não nos está a criar obstáculos que nos impeçam de conseguir o que queremos. Estes desafios deveriam ajudar-nos a descobrir do que realmente somos feitos!

Sabes que para mim, todos os momentos oferecem milagres, pequenos milagres. O prazer ajuda, facilita, incita e motiva, a cada momento, os meus mais diversos comportamentos.  Cada dificuldade é transformada num desafio, cada desafio numa expectativa, cada expectativa numa oportunidade.  Não deixo o medo bloquear-me. Persigo o absurdo, a fantasia, acorda-me as células do cérebro.  Cada adversidade rapidamente se transforma num desafio agradável. Cada fantasia num ingrediente necessário para enfrentar a vida. Pela fantasia e pelo prazer persisto, vezes e vezes sem conta, no mesmo erro! É uma maneira de olhar a vida pelo lado errado do telescópio.  É ter uma perspectiva que me permite sorrir às adversidades e rir das realidades da vida!

Doce, descontraído, exigente, intrigante, revelador, ensurdecedor, alucinante, extenuante, ousado, louco, voraz, tóxico, desconcertante...envolvente!

Eu sou de outro lugar. Tenho a certeza disso. Sou instável, inconstante. Talvez um dia vá explodir. Fantasio a realidade, transformo momentos desagradáveis em ensaios gerais de volúpia e sensualidade, faço planos epicuristas e hedonistas… transponho para o mundo sentimentos, actos, imagens, sensações, pensamentos, ideias, que começam na minha imaginação e a cada momento afecto o mundo, através destas acções e estados de espírito! A minha condição humana é volátil e enriquece-me como ser humano.

Um jardim pode ser algo complexo. Pode ser um lugar cheio de intenções estéticas e morais. Uma planta não é apenas uma planta para um designer paisagístico. Um jardim pode ser raro, comum ou pouco vulgar, pode estar condenado ao desaparecimento, mas também pode ser uma cor, uma forma, um volume, uma poesia, um drama, uma música. Pode ser uma fonte de inspiração! Assim como a vida. Na vida não existem situações a preto-e-branco. Temos altos, baixos, momentos assim-assim… Se não formos meros registadores de factos, e tentarmos penetrar os mistérios da sua origem, a vida pode ser um maravilhoso e extraordinário jardim!

Não conseguimos fugir ao passado,  este mistura-se de forma intangível com o presente,  de uma forma que não podemos ignorá-lo.  Faz parte do nosso código genético.